Eu quis entender o inexplicável, sentir o que não faz sentido, dando nomes ao que é inominável em mim...
Descobri que sou feita de ausências, procura, encontros e incertezas.
Sou as palavras não ditas, a voz que cala quando quer gritar, as alegrias que permanecem além do tempo.
A despedida não assimilada, a dispensa que me fez forte. Sou a dor do abandono e a paz do encontro. Tudo o que eu quis dizer mas se calou em mim, por medo, prudência ou falta de oportunidade.
Sou a noite escura quando descobri seu segredo mais velado, a escolha que fiz a partir desse momento; sou a aceitação, a renúncia, a vocação.
Sou a decisão, nem sempre certa, nem sempre justa, mas que me define enfim.
Sou aquilo que renunciei, desprezei, omiti. Sou a falta que sinto daquilo que deixei, do que é vivo ainda que esquecido. A última chance, a hora desperdiçada,
Sou a inconstância, o querer e não querer, o grito contido, o ventre encarcerado pela vida inexplicável que me habita.
Sou a ferida que causei e que me despedaçou também.
Sou esperança, fé, sacralidade. Liberdade e cárcere, espírito e carne.
Desafio o amor, duvido de sua força mas desejo ardentemente que me prove o contrário; que seja, além de tudo, o que me afasta do medo.
Desafio a morte desejando ser forte. Sou dura quando me sinto frágil e se sondasse meu interior saberia que minha rispidez denuncia minha dor.
Crio muros intransponíveis para me proteger do amor que sinto porque meu afeto é tanto que te afastaria de mim.
Sou sensível, doce, delicada; mas pouquíssimas vezes permito revelar-me assim.
Anseio por amor, alegrias, completude, mas quando obtenho, nunca me basta. Sou mais completa na dor, no caos, na ferida aberta.
Sou o corte profundo que sangra e dá prazer, a dor aguda que fere e anestesia ao ser lembrada, as noites em claro, a ausência de sentido.
O olhar adocicado para o passado, o caminho percorrido na distração dos dias, o projeto pessoal realizado.
O descuido com meus desejos, a vida concretizada através do espelho. O medo de não pertencer; a inquietude de ser ímpar quando desejo ser par; a satisfação de ser sua.
O choro abafado no travesseiro, a lágrima espontânea enquanto toca "When the stars go blue"; a felicidade palpável que não vai para o álbum de retratos...
O gosto salgado e agridoce, a pele úmida e o olhar de contemplação, feita de silêncio e sombras, fulgaz, intensa e dúbia.
Sem argumentos nem defesas, indecifrável.
Feliz, completa e inteira no meu mistério
Feita de perguntas, nunca respostas...
Fabíola Simões