Nem sempre dá pra ser só feliz. A gente luta, tenta fazer tudo certo. Corre atrás. Afinal, pra que tanto sacrifício? Pra ser feliz, oras.
A gente escolhe casar com o melhor namorado, pensamos muito antes de
optar pelo curso da faculdade. A melhor hora de ser mãe. Se dedica horas
e horas ao trabalho. Pesa, pondera, tem certeza, muda de idéia. Pra
que? Para ser feliz. No fim das contas é o que conta. É sim o que
importa.
Mas não dá. Mesmo tentando fazer tudo certo a gente erra. Escolhemos
errado, pesamos a mão, erramos a medida, não sabemos a ora exata de
falar. Perdemos a oportunidade de calar.
Eu estou no meio de um turbilhão. E tenho lutado tanto pra fazer tudo
certo. Tenho pisado em tantos ovos, engolido tantos sapos. Tenho calado e
feito calar.
Tem um ano que vivi um dos piores pesadelos da minha vida. Deprimi
muito, lutei com alguns fantasmas, chorei tantas lágrimas, ali,
escondida no canto (porque eu sou durona!) que nem sabia que era capaz
de produzir. Tive um medo tão grande que nem sabia que existia, e uma
tristeza tão profunda que parecia que nunca ia passar.
Mas eu lutei. Me policiei pra não pensar mais, para não lembrar, para
não me vitimizar mais. Tentei controlar o meu medo e a cada dia que
passa os fantasmas tem me assombrado menos. E eu estou feliz.
Mas aí as coisas acontecem. As coisas nos atropelam. Situação que
acreditamos poder controlar fogem totalmente ao nosso controle e como
num passe de mágica se instala o caos.
Eu sei que passa. Que tudo passa.
Sou aquela que sempre esquece as coisas ruins... Vai passar. Mas dói.
Dói de apertar o peito, de sufocar. Não ser compreendida, ser mal
interpretada e excluída não são sentimentos que consigo administrar com
facilidade.
Se sentir sempre responsável é um peso grande demais pra mim. Eu já
trabalhei minhas limitações todas. Os meus erros em tomar pra mim. Em me
sentir cobrada. Mas de vez em quando os ciclos se repetem e eu estou lá
sentindo tudo de novo (e percebam, eu disse EU! Não consigo, neste
momento, ter o distanciamento necessário para saber se estão me cobrando
também, sei que eu estou me cobrando e muito). E parece que não vai
passar.
Tomar partido é natural do ser humano. Mas porque será que nunca tomam o
meu partido? Porque eu sou forte? Porque eu não estou sozinha? E alguém
para pra pensar que mesmo quem é forte sofre? Que as pessoas usam as
máscaras que tem justamente pra se proteger da dor... E que mesmo tendo
quem te faça um curativo a dor da ferida permanece...
E entre quem se ama precisa ter lados? Os objetivos deveriam ser sempre
os mesmos... É, mas muita coisa deveria ter sido diferente.
Tinha tudo pra dar certo.
Sim, quando eu fiz as escolhas, lá atrás, foi tentando acertar. Foi
tentando fazer o melhor. Quando eu tinha o poder de fazer diferente
escolhi errado.
Agora vou colher o que plantei. Preciso aprender a calar.
Preciso mais que nunca aprender a calar. Preciso muito mesmo aprender a me recolher.
Tenho tanto medo dessa vontade que sinto de não me relacionar mais com o mundo. De me fechar.