S@pphire

 
registro: 06/05/2010
Evolua tanto que os outros precisarão conhecer você de novo.
Pontos105mais
Próximo nível: 
Pontos necessários: 95
Último jogo
Dados

Dados

Dados
1 ano 153 dias h

¨¨ Esperei pelas asas...



1782000_819926968022556_175274378_n.jpg


Ergui os braços aos céus e rodopiei, com os pés assentes na areia úmida e fria. No céu cintilava um universo de estrelas e a lua refletia, incompleta e crescente, no alvoroço de um oceano feito em lágrimas.
Não fiz caso das pessoas que passavam na rua, de sobrolho franzido, amaldiçoando o Inverno. E, talvez por isso, de alguma forma, elas também não perderam tempo a olhar para mim: criança adulta ou mulher inocente, dançando ao som das ondas. Feliz, completa. Tão, tão feliz.
A memória inconstante chegava e partia como as ondas, firmes e difusas, em marés de saudade. E o vento, vindo desse Norte agreste, veio dançar comigo, trazendo o aroma adocicado de terras distantes.
Um dia disseste-me para abrir as asas. Para as abrir com a simplicidade de ser eu. E isso significava que sabias que eu podia voar. Hoje danço, porque compreendi a verdade. Tive sempre as asas abertas, da mesma forma que te tive sempre, qual corrente de aço, agarrada aos pés. Com o tempo deixei de precisar de voar. Acorrentada à saudade, à solidão, ao medo, à dor… a todos esses sentimentos que deixam de ser tristes e me acolheram nos braços.
Antes, fiz da dor o meu Abrigo. Mas hoje danço. Ergo os braços aos céus e mergulho os pés na água fria do oceano. Danço. Danço de asas abertas e sem temor. Já não te tenho, qual grilhetas pesando. Tenho apenas as memórias sólidas e concretas. Distantes... desertas de ti.
E, rodopiando, de asas abertas, dou por mim a subir aos céus de possibilidades que nem sabia que havia em mim. Descubro que há uma beleza subtil na alma que julgava que não tinha. Descubro que o lugar vazio de onde arranquei o coração foi de súbito preenchido pela certeza de que poderei sempre amar. Talvez não ame da mesma forma. Mas posso amar com a mesma força, o mesmo alento, a mesma paixão. Posso amar tanto quanto o amor diz.
Fada de Inverno num conto misterioso chamado vida, descubro voando que viverei sempre na paz de ter cumprido todas as promessas que te fiz. Na paz de saber que não espero nem desejo que cumpras a tua.
De asas abertas, e sem olhar o chão distante, descubro que vale a pena ser a pessoa que ama, apesar da mágoa. Mesmo que não resulte. Mesmo que magoe. Vale a pena ser a pessoa cujo coração bate, cuja alma permanece intacta, cujos sentidos permanecem sólidos.
Esperei. Julguei que era por ti. Não era. Esperei pelas asas. Esperei por abrir as asas. E hoje sei que valeu o medo, o sofrimento, a mágoa. O mundo é mais bonito visto do alto... e só pode ter asas quem tem coração. 

__________________________Marina Ferraz.