"O último a sair que feche a porta, por favor."
Agora é assim. Cansei-me. Cansei-me de pedir, com os olhos cheios de lágrimas: "não sejas como todos os outros, não vás!". Já perdi amigos. Já perdi amantes. Já perdi amores. Todos eles, voltando costas, como se não houvesse amizade, paixão ou amor. E cansei-me das lágrimas. Cansei-me dos pedidos. Cansei-me de deixar o orgulho cair e estilhaçar. Cansei-me de me ajoelhar para apanhar os cacos do meu coração. Se quiseres ir, vai...
Promessas irrealistas e surreais, ouvi-as. Ouvi tantas que começaram a amontoar-se, qual torre sem alicerces, na inevitabilidade da queda. Já me prometeram o "para sempre". Já me disseram que a minha amizade valia mundos e que nada nem ninguém podia substituir-me. Já disseram que eu era única. A vida ensinou-me a não deixar o ego elevar-se nas palavras. Como todas as outras pessoas, para muitos fui mais uma no caminho, tão usável e substituível como outra qualquer. E, para muitos, se fui a melhor amiga, a melhor amante, o melhor amor, fui-o na sala de espera de algo melhor. De tantas, tantas pessoas fui a sala de espera que, na tua promessa, não julguei ser destino.
Não vou pedir-te para ficares. Não vou atirar-te ao rosto a forma como me iludiste com a ideia de que fosses diferente dos demais. Podes ir. O caminho impera e a meta aguarda. Vai. E não penses que fico para trás a chorar-te ou a lançar maldições ao ar. Vai e sê feliz. Tão feliz como me fizeste enquanto a promessa soou real.
Cansei-me. Cansei-me de ser sempre a passagem. Cansei-me de olhar para a estrada à espera que alguma das pessoas que me abandonaram volte atrás para me reencontrar. E deixei de dizer que perco as pessoas porque compreendi que nunca perdi ninguém. Todas as pessoas que foram, foram pelo próprio pé, num virar de costas derradeiro e frio, como se eu nunca tivesse importado. Eu não as perdi porque soube sempre onde elas estavam. Elas é que, por algum motivo, me perderam dentro dos recantos tristes do coração.
"O último a sair que feche a porta, por favor." - É apenas isso que peço, por entre as desilusões gélidas e a saudade cortante dos meus dias. Eu sei que as pessoas vêm e vão. Que chegam e me abandonam. E está tudo bem. Não vou argumentar contra as vontades do destino. Mas, por favor, o último a sair da minha vida que feche a porta, para eu não morrer nas correntes de ar da solidão...
Marina Ferraz